Num texto acadêmico, os agradecimentos dizem respeito a contribuições que não se qualificam como autoria. Um exemplo: o financiamento. Sem bolsa de uma FAP (i.e., de uma das Fundações de Amparo à Pesquisa) ou do CNPq, da CAPES não teria sido possível o desenvolvimento do trabalho; por conseguinte, essa agência específica estará nos agradecimentos (certamente essa exigência já estava no contrato assinado).
Do mesmo modo, quem prestou ajuda técnica com aparelhos, quem permitiu acesso a dados ou quem revisou a redação contribuiu, mas não é autor. Nos Agradecimentos, então.
Quem tem de estar nos agradecimentos
Têm de estar listados nos agradecimentos de tese, dissertação, monografia: a) no caso de bolsista, a agência de fomento (com o nome da bolsa e o número do auxílio); b) o orientador, sem o qual sequer haveria defesa.
- Se não houver agradecimentos ao orientador, fica implícito que orientador e orientando estavam em guerra.
- Fica implícita a mensagem de que o orientador não orientou se o agradecimento ao orientador:
- vier lá pelo meio de uma lista de agradecimentos, ou
- se aparecerem como orientadores (pior: antes do orientador oficial) outros orientandos do orientador.
(Vale a pena deixar o registro do mal-estar para a posteridade?)
Especifique em que consistiu a contribuição de cada nome arrolado.
O que é opcional (mas recomendável incluir) nos agradecimentos
No caso de dissertações, teses e monografias:
- a instituição em que o trabalho foi desenvolvido, que disponibilizou sua infraestrutura, como bibliotecas, laboratórios;
- outra instituição em que tenha feito estágio, bolsa sanduíche;
- os responsáveis pela liberação ou diminuição de carga horária no trabalho;
- leitores de versões prévias.
No caso de artigo, aos pareceristas que tenham contribuído para a melhoria do trabalho.
No caso de periódicos, há os que exigem autorização por escrito daquele a quem se agradece para que o nome possa ser mencionado nos agradecimentos. Evitam, desse modo, que pesquisadores-seniores pareçam dar peso a um trabalho cuja existência possam mesmo desconhecer.
Quem (ou o que) não deve estar nos agradecimentos
Em artigos são raros, uma vez que não há espaço, mas têm sido comuns em monografias, dissertações e teses brasileiras, ao menos em Linguística, o que poderíamos classificar como agradecimentos afetivos. São agradecimentos relativos ao incentivo ou ao suporte, emocional e/ou financeiro, recebido de parentes, amigos e até de animais de estimação. Também são comuns os agradecimentos religiosos.
Podem ser comuns, mas é estranho abrir uma dissertação, tese ou monografia e encontrar agradecimentos não acadêmicos, como os exemplos a seguir. Expõem desnecessariamente e num contexto inapropriado a intimidade do autor:
- Agradeço ao meu namorado, XXXXX, com quem eu sei que passarei o resto da minha vida.
- Primeiro de tudo, gostaria de agradecer a Deus por manter a minha mãe ao meu lado.
- À minha cadela, que sempre quando eu estava triste me alegrou (mesmo sem dizer uma palavra) com todo o seu amor.
- Aos meus amigos que acreditaram em mim.
- Às minhas tias que sempre se alegram com minhas conquistas acadêmicas e pessoais.
Mas e os amigos do café antes das aulas? As tias? O namorado? Chame-os para uma comemoração! Num trabalho longo como a tese, o afeto por essas pessoas (e o amor a Deus) poderia achar lugar na Dedicatória.
É caso de agradecimento ou de coautoria?
Teses e dissertações não trazem esse problema.
Comece a preparar o arquivo dos agradecimentos quando estiver começando o trabalho. Garanta desse modo que TODOS que contribuíram com sugestões ou comentários relevantes, bibliografia, dados não sejam esquecidos.
Vale ler os artigos:
Hayashi, Maria Cristina Piumbato Innocentini. 2018. Agradecimentos em artigos científicos: o ponto de vista de pesquisadores. Prisma, 37: 55-70. http://ojs.letras.up.pt/index.php/prismacom/article/download/4708/4401
MONTEIRO, Rosangela et al. 2004. Critérios de autoria em trabalhos científicos: um assunto polêmico e delicado. Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular .19 (4): III-VIII. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-76382004000400002&script=sci_arttext
MONTENEGRO, Mano R. & ALVES, Venâncio A. Ferreira. Critérios de autoria e coautoria em trabalhos científicos. Acta Botanica Brasilica [online]. 1997, 11 (2): 273-276 http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-33061997000200014&script=sci_arttext
Referências
Parte do material desta postagem reproduz Rosa, Maria Carlota. 2015. Guia para trabalhos monográficos originais. Material para os orientandos.
Descubra mais sobre Linguística - M.Carlota Rosa
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