O feiticeiro e o feitiço

A procura de atalhos para o TCC (ou para a dissertação, ou para a tese)

Para concluir o curso de Letras na UFRJ, um aluno tem de fazer uma monografia ou trabalho de conclusão de curso, em geral referido como TCC. Em Letras como em outros cursos, na UFRJ como em outras instituições de ensino superior, há quem procure simplificar o processo; afinal, para que se perderia tempo com leituras, experimentos, com reuniões com o orientador, milhentas reescritas e consertos, se é possível comprar um trabalho? Bastaria pagar e as preocupações estariam terceirizadas.

A quantidade de endereços na internet de firmas que vendem monografias de qualquer área com entrega prometida em alguns dias ou semanas demonstra que esse é um mercado aquecido, embora ilegal, como já notara a OAB/ Ordem dos Advogados do Brasil em documento de 2010. A propaganda promete até que o trabalho estará livre de plágio, mas por um valor um tanto mais alto. E há ainda promessas de sigilo e confidencialidade; afinal, como ressalta o documento da OAB, ao depositar esse material na universidade para a conclusão de um curso, o concluinte estará apresentando um documento falso.

Vamos lá: quem poderia ter como emprego o desenvolvimento completo e simultâneo de vários projetos (no plural), em várias áreas de conhecimento, em poucos dias? Um especialista? Especialista em quê exatamente?

“Paguei para que um ESPECIALISTA o [o TCC] fizesse para ser mais rápido e mais elaborado. Todas as vezes que o trabalho voltava do orientador era que o tcc estava total plagiado.”

“eles entregam pra mim o mesmo trabalho que entregaram para vários alunos, pois a universidade me deu um feedback falando exatamente isso [….] E quando vamos contratar eles nos prometem trabalhos 100% originais autorais livres de plágio”.

E se fosse de fato um especialista na área que viesse a escrever o TCC? Possivelmente não haveria cópia do texto ou dos achados de outros pesquisadores, mas um problema continuaria presente: alguém receberia nota e créditos por algo que não fez.

As muitas reclamações expostas na internet indicam haver a percepção disseminada de que o plágio é algo que não se deve fazer; por outro lado, a compra de um trabalho para nota não parece ser encarada nem como má conduta acadêmica, menos ainda como ilegal. Os reclamantes se eximem de qualquer responsabilidade, porque, para eles, se houve algo errado foi o plágio, cuja culpa deveria ser imputada ao escritor fantasma que não cumpriu o que fora contratado.

A procura de atalhos para a publicação de artigos

A revista Pesquisa FAPESP de 16 de novembro de 2022 tocava num tema semelhante: as fábricas de artigos (ou papermills), “serviços ilegais que produzem trabalhos científicos sob demanda, frequentemente com dados falsos”. O tema surgia em meio a uma denúncia que levara uma das famosas revistas da editora Elsevier a retratar 47 artigos.


Ter o nome num trabalho significa que nos responsabilizamos pelo que está nele. Pode ser um artigo, um TCC, uma tese. Se o trabalho entregue é resultante do esforço não de quem o assina como autor, mas do esforço de outra pessoa — seja ela um amigo especialista no tema que escreve um trabalho original ou uma firma que pode até mesmo vender o mesmo trabalho para muitos clientes — em termos acadêmicos estamos diante de um caso de má conduta.

Pode haver consequências além do gasto de dinheiro? Sim, a começar por uma reprovação no curso, ou por uma retratação de trabalho publicado.


2022: A pandemia não acabou

Mudanças no site: uma seção para os trabalhos acadêmicos

A partir de hoje, 7 de junho de 2021, a aba Para os trabalhos acadêmicos ganhou três sub-abas:

Sugestões são benvindas.


Atualização: Com a mudança de endereço do site, em 27 de março de 2023 essas abas foram reunidas numa única, a saber, “Os trabalhos” https://linguisticamcarlotarosa.wordpress.com/docs/.


Banca com participação por videoconferência: como fica a ata?

A UFRJ  publicou este mes de novembro uma resolução que permite àquele que preside uma banca examinadora de mestrado ou de doutorado assinar a ata da defesa pelo membro ou membros da banca cuja participação tenha sido por videoconferência, dispondo que

O presidente da banca poderá assinar a ata da defesa em nome dos membros da banca que participarem por videoconferência. Neste caso, a ata deve mencionar sua participação por videoconferência ao lado do nome do membro da banca.

Essa e outras alterações estão na Resolução CEPG nº 03/2019, de 01 de novembro de 2019.


Chegou o dia da defesa

As horas que antecedem a defesa da dissertação ou da tese são um misto de emoções, da alegria à ansiedade. Em geral tudo termina bem, mas vale a pena ter atenção a alguns detalhes.

  • A defesa é uma situação muito formal.

Pode-se medir a formalidade da situação pelo tempo de preparação para aquele momento e pela papelada para sua realização. Até tem ata!

Em algumas universidades de muitos séculos a formalidade chega ao vestuário, com normas sobre a vestimenta específica para esse ato: quem pode usar veste talar, beca, cinto, traje passeio… No Brasil não há normas determinando um vestuário específico. Em geral, a banca e o candidato ao grau estão um pouco mais arrumadinhos que nas aulas.

"Um pouco mais arrumadinhos" significa que não importa 
que neste Rio de Janeiro esteja a 43°: não é hora para shortinhos, 
bermudas, chinelos, camisa aberta. Não vai dar para mostrar 
a tatuagem? Certamente ninguém está lá por causa dela.
Nem é hora para aquele minivestido drapeado matador 
que ficou lindo (deixe esse para a comemoração).
  • Demonstre cortesia com a banca.

A banca precisa de tempo hábil para ler o trabalho. O exemplar da tese deve chegar a cada membro da banca, suplentes incluídos, cerca de um mes antes da defesa.

Apenas o exemplar, sem lembrancinhas que, certamente, 
causarão constrangimento e podem vir a ser mal interpretadas. 
  • A defesa é pública.

Em geral, respondem  à divulgação do evento com a presença outros pesquisadores do mesmo tema e colegas de pesquisa. Podem também assistir à defesa familiares e amigos. 

Na UFRJ a defesa fechada ao público, com cláusula de 
confidencialidade e sigilo é excepcional, 
podendo ser autorizada "mediante solicitação do orientador, 
acompanhada do acordo de todos os membros da banca, 
com aprovação da comissão deliberativa 
do programa de pós-graduação, 
da comissão de pós-graduação e pesquisa, se houver, 
da congregação ou colegiado equivalente 
e do conselho de coordenação do Centro Universitário" 
(Resolução CEPG 01/2006, Art. 56, par. único).
  • Não se atrase.

Chegue bem antes da hora marcada. Use o tempo para confirmar se a sala está liberada, se a aparelhagem está funcionando (em especial se parte dos membros participar  da banca por videoconferência). E para não ficar mais nervoso ainda.

  • Durante a espera…

À medida em que os membros da banca forem chegando, cumprimente cada um, mas nesse momento nenhum deles é “coleguinha”.

Certamente nenhum deles é parente do candidato.
Nem sócio. Nem qualquer membro da banca 
pode ser parente do orientador. Conflitos de interesse
não são bem vistos.

Nem pensar em distribuir presentes para a banca antes da defesa (na verdade, nem depois).

  • É indispensável ter em mãos uma cópia da dissertação ou tese durante a defesa.

Ela será necessária para responder à arguição e para anotar as passagens do texto que merecerem reparos da banca.

  • Vai começar. Celular desligado.

Atenção ao que está sendo dito. No correr da defesa  não confira se há novas mensagens no celular, nem tente postar selfies

  • E começou!

Em geral a defesa tem início com o presidente da banca (que pode ser o Orientador ou não — depende do regimento de programa de pós-graduação) dando início aos trabalhos. Nesse introito há a  apresentação dos componentes da banca, os agradecimentos a eles por terem aceitado participar da defesa e agradecimentos à presença dos demais.

Finda essa abertura, o presidente da banca passa a palavra ao candidato ao grau de mestre ou doutor para que faça uma apresentação do trabalho. A  duração dessa apresentação (e até se deve ou não haver uma apresentação) é estipulada pelas normas do programa de pós-graduação.

Terminada a apresentação, tem início a arguição. Cabe ao presidente da banca decidir a ordem dos arguidores. O arguidor escolhe se quer respostas a cada pergunta ou todas ao final das perguntas.

  • Quem pode ter uso da palavra.

No Brasil e em muitos países apenas a banca e o candidato têm direito à palavra, que  é concedida pelo presidente da banca. Os demais presentes, mesmo que especialistas na área, assistem em silêncio e não podem interromper a defesa. 

O candidato tem de deixar isso claro para seus convidados. 
O candidato está numa avaliação e não pode 
ter de se preocupar com o comportamento de outras pessoas.
Imagine que um convidado se levanta e começa a cantar  
em homenagem ao parente/amigo (posso garantir que é esquisito
para todos os presentes, mas, para o candidato é de perder o chão); 
ou pior: que um convidado resolve destratar os arguidores, 
porque demonstraram que não gostaram do trabalho. 

  • E acabou!

Após a leitura da ata pelo presidente com o resultado final, cumprimente todos os membros da banca e não saia para a comemoração antes de assinar todos os documentos necessários.

A regulamentação geral da UFRJ sobre a pós-graduação 
está na Resolução CEPG nº 01/2006. 
A Resolução CEPG nº 02/2015 introduziu a possibilidade 
de participação por videoconferência, mas com restrições.

Sugiro a leitura dos seguintes textos:

Enago Academy. 2019. Como Defender uma Dissertação/Tese. 16Jul2019. https://www.enago.com.br/academy/defender-dissertacao-tese/

Sgarbi, Adrian. 2013. O que não fazer em sua defesa de dissertação ou tese https://pesquisatec.com/blog/proibido