Parágrafos têm estilo: qual deles tem lugar em trabalhos acadêmicos?

Nos primeiros anos da escola aprendemos a construir um parágrafo. De um lado, temos de aprender a estruturar linguisticamente nosso texto; de outro, temos de aprender também a criar a identificação visual rápida dessa unidade textual. Começamos ali nossa introdução à formatação. Se é trabalhoso para quem escreve decidir sobre a distribuição do conteúdo pelos diversos parágrafos de um texto, para quem lê é fácil apreender rapidamente onde começa e termina cada uma dessas unidades no texto.

Na quase totalidade das nossas escolas, a escrita começa pelo manuscrito. Nesse momento, os professores muitas vezes lançam mão de um pontinho ou uma cruzinha para chamar a atenção para um vazio no início da primeira linha do primeiro parágrafo — a que se dá o nome de claro de entrada, recolhido, recuo, indentação no Brasil; em Portugal, também sangria — e da manutenção da mesma medida no recuo dos parágrafos seguintes, sem esquecer de repetir que o recolhido antecede letra maiúscula, obrigatória, e que todo aquele conjunto tem de terminar com um ponto, que ganha o nome de ponto parágrafo.

Aquele parágrafo da escola é o parágrafo comum, também denominada parágrafo português e, formalmente:

  • tem recolhido na primeira linha;
  • tem todas as demais linhas sem recolhido: elas começam junto à margem esquerda e ocupam toda a extensão até a margem direita;
  • tem a última linha começando na margem esquerda, sem recolhido, mas ela pode não se estender até a margem direita.

O parágrafo e o estilo da página

À medida em que avançamos no mundo da leitura, começamos a conhecer livros e outros impressos cujas páginas receberam uma composição em parágrafos diferente. Editores podem solicitar aos autores que se prendam a uma página de instruções e podem determinar, por exemplo, que o título não deve exceder 60 caracteres, aí incluídos os espaços; que não somente a primeira letra do parágrafo seja maiúscula no primeiro parágrafo de um capítulo, e sim as primeiras palavras, como em “EMBORA HAJA registro de estudos linguísticos desde a Antiguidade”. A diversificação de leituras nos coloca em contacto com outras possibilidades de formatação. Alguns exemplos.

  • Em verbetes de dicionários e em referências bibliográficas podemos encontrar o parágrafo francês, que tem recolhido em todas as linhas, à exceção da primeira.
Parágrafo francês – Extraído de NASCENTES, Antenor. Dicionário etimológico resumido. Rio de Janeiro, INL, 1956.
  • Neste website (e em muitos materiais na internet) não há como fazer a indentação de linha alguma e assim todas ocupam toda a extensão entre as margens esquerda e direita, exceção à última, que pode ocupar ou não toda a linha. É o parágrafo alemão. Quando se usa este estilo, há necessidade da inserção de um branco entre os parágrafos; caso contrário, um parágrafo cuja última linha termine junto à margem direita se mesclará visualmente ao parágrafo seguinte.
  • Posso unir dois estilos: em impressos, no que se chama composição à inglesa, o primeiro parágrafo do capítulo é um parágrafo sem indentação (parágrafo alemão), mas os demais parágrafos são indentados (parágrafo português ou comum).
  • O parágrafo espanhol se distingue do parágrafo alemão pela última linha: no parágrafo espanhol a última linha linha está centralizada.
Parágrafo espanhol – Extraído de BARROS, João. Grammatica da lingua portuguesa com os mandamentos da santa mádre igreja. Lisboa: Em casa de Luiz Rodrigues. 1539
  • Em livros publicados em torno dos séculos XVI e XVII não era raro encontrar o fundo de lâmpada ou cul de lampe, formatação aplicada na página final de capítulo ou mesmo no título: as linhas, centralizadas, vão diminuindo de extensão, de modo a formar um ângulo cujo vértice aponta para o pé da página.
Fundo de lâmpada -Extraído de LEAO, Duarte Nunes de. Leis extrauagantes / collegidas e relatadas pelo licenciado Duarte Nunez do Liam per mandado do muito alto & muito poderoso Rei Dom Sebastiam nosso Senhor. – Em Lisboa : per Antonio Gonçaluez, 1569. https://purl.pt/12180

E nos trabalhos acadêmicos?

Na universidade dificilmente um trabalho de disciplina é entregue escrito à mão. No tocante à monografia de fim de curso de graduação (o TCC), à dissertação e à tese, todos estes têm de ser digitados, e os processadores de texto facilitaram enormemente o trabalho de formatação. No Brasil, esses trabalhos devem seguir a padronização expressa em normas da ABNT/ Associação Brasileira de Normas Técnicas.

Na UFRJ, a adaptação dessas normas para teses e dissertações consta da Resolução CEPG/Conselho de Ensino para Graduados nº 02/2002; no que respeita ao TCC na Faculdade de Letras, a adaptação consta da Resolução nº 1/ 2020. Para gerar automaticamente a ficha catalográfica, necessária nesses trabalhos, http://www.sibi.ufrj.br/index.php/produtos-e-servicos/gerador-de-ficha-catalografica .

No tocante ao parágrafo, o site da ABNT https://www.normasabnt.org/formatacao-abnt/ indica para os trabalhos acadêmicos o uso do parágrafo português, sem que essa denominação esteja presente naquele material. Trata-se do parágrafo português porque ali se determina que o texto, em fonte 12, tinta preta, papel A4 sem marca d’água, escrito apenas no anverso (ou reto) da folha, deverá apresentar em cada parágrafo:

  • um recuo especial na primeira linha;
  • nenhum recuo nas demais linhas do parágrafo;
  • nem espaçamento antes nem depois do parágrafo.


2022 – A pandemia continua e mata no Brasil o equivalente a uma queda de avião diária.

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